segunda-feira, 23 de maio de 2011

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO NA USP por um PSICÓLOGO


 

'O HOMEM TORNA-SE TUDO OU NADA, CONFORME A EDUCAÇÃO QUE RECEBE'

'Fingi ser gari por 1 mês e vivi como um ser invisível'
Tese de Mestrado - 2002  


Braga com os colegas
imagem google
Psicólogo varreu as ruas da USP para concluir sua tese de mestrado da 'invisibilidade pública'. Ele comprovou que, em geral, as pessoas enxergam apenas a função social do outro. Quem não está bem posicionado sob esse critério, vira mera sombra social.

Plínio Delphino, Diário de São Paulo.
O psicólogo social Fernando Braga da Costa vestiu uniforme e trabalhou um mês como gari, varrendo ruas da Universidade de São Paulo.
Ali,constatou que, ao olhar da maioria, os trabalhadores braçais são 'seres
invisíveis, sem nome'.
Em sua tese de mestrado, pela USP, conseguiu comprovar a existência da 'invisibilidade pública', ou seja, uma percepção humana totalmente prejudicada e condicionada à divisão social do trabalho, onde enxerga-se somente a função e não a pessoa. Braga trabalhava apenas meio período como gari, não recebia o salário de R$ 400 como os colegas de vassoura, mas garante que teve a maior lição de sua vida:
'Descobri que um simples bom dia, que nunca recebi como gari, pode
significar um sopro de vida, um sinal da própria existência', explica o
pesquisador.

O psicólogo sentiu na pele o que é ser tratado como um objeto e não como um ser humano.
'Professores que me abraçavam nos corredores da USP passavam por mim, não me reconheciam por causa do uniforme. Às vezes, esbarravam no meu ombro e, sem ao menos pedir desculpas, seguiam me ignorando, como se tivessem encostado em um poste, ou em um orelhão', diz.
No primeiro dia de trabalho paramos pro café. Eles colocaram uma garrafa térmica sobre uma plataforma de concreto. Só que não tinha caneca. Havia um clima estranho no ar, eu era um sujeito vindo de outra classe, varrendo rua com eles. Os garis mal conversavam comigo, algunsse aproximavam para ensinar o serviço.
Um deles foi até o latão de lixo pegou duas latinhas de refrigerante cortou as latinhas pela metade e serviu o café ali, na latinha suja e grudenta. E como a gente estava num grupo grande, esperei que eles se servissem primeiro.
Eu nunca apreciei o sabor do café. Mas, intuitivamente, senti que deveria tomá-lo, e claro, não livre de sensações ruins. Afinal, o cara tirou as latinhas de refrigerante de dentro de uma lixeira, que tem sujeira, tem formiga, tem barata, tem de tudo. No momento em que empunhei a caneca improvisada, parece que todo mundo parou para assistir à cena, como se perguntasse:
'E aí, o jovem rico vai se sujeitar a beber nessa caneca?' E eu bebi. Imediatamente a ansiedade parece que evaporou. Eles passaram a conversar comigo, a contar piada, brincar.

O que você sentiu na pele, trabalhando como gari?
Uma vez, um dos garis me convidou pra almoçar no bandejão central.
Aí eu entrei no Instituto de Psicologia para pegar dinheiro, passei pelo andar térreo, subi escada, passei pelo segundo andar, passei na biblioteca, desci a escada, passei em frente ao centro acadêmico, passei em frente a lanchonete, tinha muita gente conhecida. Eu fiz todo esse trajeto e ninguém em absoluto me viu.
Eu tive uma sensação muito ruim. O meu corpo tremia como se eu não o dominasse, uma angustia, e a tampa da cabeça era como se ardesse, como se eu tivesse sido sugado. Fui almoçar, não senti o gosto da comida e voltei para o trabalho atordoado.
E depois de um mês trabalhando como gari? Isso mudou?
Fui me habituando a isso, assim como eles vão se habituando também a situações pouco saudáveis. Então, quando eu via um professor se aproximando - professor meu - até parava de varrer, porque ele ia passar por mim, podia trocar uma idéia, mas o pessoal passava como se tivesse passando por um poste, uma árvore, um orelhão.
E quando você volta para casa, para seu mundo real?
Eu choro. É muito triste, porque, a partir do instante em que você está inserido nessa condição psicossocial, não se esquece jamais.
Acredito que essa experiência me deixou curado da minha doença burguesa.
Esses homens hoje são meus amigos. Conheço a família deles, freqüento a casa deles nas periferias. Mudei. Nunca deixo de cumprimentar um trabalhador.
Faço questão de o trabalhador saber que eu sei que ele existe.
Eles são tratados pior do que um animal doméstico, que sempre é chamado pelo nome. São tratados como se fossem uma 'COISA'.
*Ser IGNORADO é uma das piores sensações que existem na vida!
Respeito: passe adiante!

ps. verídico!! confira em:

sábado, 21 de maio de 2011

MENTES TRANSTORNADAS - Sílvia Vargas

(Texto publicado na Revista Feedback - Ano XIV - 24ª Edição - Abril/2011 - RS pgs. 26 e 27)

No início deste mês, 07 de abril de 2011, o Brasil e o mundo ficaram chocados com a notícia de um jovem, Wellington Menezes de Oliveira- 23 anos, que retornou a escola em que estudou quando menino e matou 12 alunos, ferindo outros 12. Após ser ferido por um policial, suicidou-se, cumprindo com decisão já previamente tomada.
Assim ganhou o mundo a notícia do Massacre do Realengo. Sua “família” se recusou a identificar o corpo no IML, com a afirmação de proteção ao grupo familiar e solidariedade as famílias das vítimas. Foi enterrado dia 22/04 – ironicamente sexta-feira santa - nenhum parente acompanhou o sepultamento, feito em cova rasa, sem lápide, com auxílio da Santa Casa de Misericórdia. Dores, pavores e tristezas a parte, o que vemos aqui é a expressão clara do transtorno mental de Wellington, segundo especialistas, entre eles psiquiatras do IPF, esquizofrenia (ver box 1) .

Não acredito em transformações 'relâmpago'. Minha profissão não me permite. Tão pouco em transtornos graves sem que antes apresentem sintomas menores. Ninguém se apresenta transtornando de um momento para o outro, isso se tratando de saúde mental, segundo critérios do DSM IV, muito menos sai matando crianças.   

Familiares, amigos, vizinhos, professores e colegas perceberam que havia, no mínimo, algo de diferente com esse rapaz. Perceberam como afirmam algumas notas, mas a forma como foi conduzido ou tratado, com certeza, deixou muito a desejar. Tentaram “aparentar” que estava tudo bem. Segundo vizinhos e ex-colegas “era apenas um menino muito quieto, muito tímido, muito esquisito...” Não estava tudo bem, era imperativa a necessidade de avaliação, diagnóstico e tratamento – psiquiátrico e psicológico. Isso sim poderia ter evitado esta tragédia. Um transtorno identificado, com um tratamento bem conduzido permite ao sujeito uma vida produtiva em sociedade.

Mas aí está o problema. Voltamos ao preconceito. Pode parecer repetitivo, mas muitas vezes o PROBLEMA está em ignorar o PROBLEMA.

Situações semelhantes, que podem parecer de uma ordem menor, acontecem cotidianamente, às vezes bem próximas a nós, e são desprezadas como se fossem atos isolados motivados por timidez, ciúmes, disputas, rivalidades, competições, auto-afirmação e muitos outros motivos considerados banais. Mais grave ainda se são percebidos já na infância e adolescência, por exemplo, e ignorados justamente por isso, com a afirmação de que: "é coisa de criança".

De ALGUMAS crianças. Mais tarde, de ALGUNS adolescentes e depois temos aqui hoje um exemplo drástico com o resultado de 12 mortos, 12 feridos, muita dor e tristeza para muitas famílias. Muito que pensar para toda a sociedade.

No caso de Wellington segundo informações, já havia um diagnóstico de problemas mentais, que após a morte de sua mãe agravou-se. Saiu do emprego e recolheu-se ao isolamento, rompeu concretamente seu contato com a realidade e mergulhou definitivamente no universo virtual, seu hobby desde a adolescência. Ali buscou o incentivo, as técnicas e as justificativas que lhe faltavam para completar seu plano.

É dito que sua mãe biológica também apresentava problemas mentais.

Somemos a isso toda situação de bullyng e abusos que enfrentou naquela mesma escola relatada por ex-colegas que falaram após sua morte.   

Não se trata aqui de uma tese de defesa a conduta ou ao caso de Wellington. Nada disso, nada justifica a violência, tão pouco as mortes. Nada amenisa tantas dores. Contudo aqui a avaliação é da situação, do caso Wellington. E na sua história foram tantas as feridas, na sua ótica nunca reparadas, nunca cuidadas, que no seu funcionamento transtornado, construiu um plano de retornar ao local onde por tantas vezes sofreu e acabar com “aqueles” que o  machucaram. A ele e a outros como ele, seres “inofensivos e/ou inocentes” (de acordo com seus vídeos), por isso voltou a “sua escola, as mesmas salas onde estudou, com alunos da mesma idade que tinha a época dele e de seus colegas (início dos anos 2000), à época do bullyng e dos abusos. Na sua cabeça, estava atirando contra cada um dos colegas que em algum momento do seu passado o feriu. Wellington não é um psicopata (ver box 2). Ainda segundo relatos, “nunca fez mal a uma formiga”, era extremamente apegado a sua mãe, sofreu a sua morte a ponto de se isolar do mundo. Não buscava notoriedade, em sua loucura. De maneira insana buscava aliviar o mundo das maldades das quais foi vítima na sua infância e adolescência, temia a justiça divina e queria algum religioso em seu sepultamento. Devido a um transtorno psiquíco severo sem diagnóstico e tratamento adequado e a omissão de alguns, Wellington terminou sua vida como um criminoso. Hoje várias famílias choram as suas perdas e outras começam a abrir os olhos para o problema.

Box 1


A esquizofrenia é um transtorno mental, podendo atingir diversos tipos de pessoas, sem exclusão de grupos ou classes sociais. É um trantorno psíquico severo, com sintomas de alterações do pensamento, alucinações (visuais, sinestésicas, e sobretudo auditivas), delírios e alterações no contato com a realidade. Junto da paranoia e dos transtornos graves do humor, as esquizofrenias compõem o grupo das Psicoses.

Algumas pessoas acometidas da esquizofrenia se destacaram ao longo da história no meio acadêmico, artístico e social. Um exemplo é o matemático norte-americano John Nash, que, em sua juventude, sofria de esquizofrenia, conseguiu reverter sua situação clínica (apesar de conviver com sintomas psicóticos típicos) e ganhar o Prêmio Nobel de Ciências Econômicas em 1994.

São várias as abordagens terapêuticas na intervenção ao doente esquizofrênico, que na maioria dos casos tem indicação de um tratamento interdisciplinar: o acompanhamento médico-medicamentoso, a psicoterapia, a terapia ocupacional (individual ou em grupos), a intervenção familiar, a musicoterapia e a psicoeducação são os procedimentos indicados para estes doentes.


Box 2


A psicopatia é um  transtorno da personalidade grave caracterizado por um desprezo das obrigações sociais, desvio de caráter, ausência de sentimentos genuínos, falta de empatia, frieza, insensibilidade aos sentimentos alheios, manipulação, egocentrismo, falta de remorso e culpa para atos cruéis e inflexibilidade com castigos e punições. Há um desvio considerável entre o comportamento e as normas sociais estabelecidas. Existe uma baixa tolerância à frustração e um baixo limiar de descarga da agressividade, inclusive da violência. Existe uma tendência a culpar os outros ou a fornecer racionalizações plausíveis para explicar um comportamento que leva o sujeito a entrar em conflito com a sociedade.

Box 3

No Brasil, uma pesquisa realizada em 2010 com 5.168 alunos de 25 escolas públicas e

particulares revelou que as humilhações típicas do bullying são comuns em alunos da

5ª e 6ª séries. Entre todos os entrevistados, pelo menos 17% estão envolvidos com o problema.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Noam Chomsky: “Minha reação ante a morte de Osama"

Poderiamos perguntar a nós mesmo como reagiríamos se um comando iraquiano pousasse de surpresa na mansão de George W. Bush, o assassinasse e, em seguida, atirasse seu corpo no Oceano Atlântico.
(ainda ontem li num jornal local -Bagé - um artigo de sobre onde o autor referia não "alegrar-se"com a morte, mesmo sendo a de Osama)

- texto retirado na íntegra da internet, já publicado em vários sites.

Por Noam Chomsky* , no Guernica Magazine

Fica cada vez fica mais evidente que a operação foi um assassinato planejado, violando de múltiplas maneiras normas elementares de direito internacional. Aparentemente não fizeram nenhuma tentativa de aprisionar a vítima desarmada, o que presumivelmente 80 soldados poderiam ter feito sem trabalho, já que virtualmente não enfrentaram nenhuma oposição, exceto, como afirmara, a da esposa de Osama bin Laden, que se atirou contra eles.

Em sociedades que professam um certo respeito pela lei, os suspeitos são detidos e passam por um processo justo. Sublinho a palavra "suspeitos". Em abril de 2002, o chefe do FBI, Robert Mueller, informou à mídia que, depois da investigação mais intensiva da história, o FBI só podia dizer que "acreditava" que a conspiração foi tramada no Afeganistão, embora tenha sido implementada nos Emirados Árabes Unidos e na Alemanha.

O que apenas acreditavam em abril de 2002, obviamente sabiam 8 meses antes, quando Washington desdenhou ofertas tentadoras dos talibãs (não sabemos a que ponto eram sérias, pois foram descartadas instantâneamente) de extraditar a Bin Laden se lhes mostrassem alguma prova, que, como logo soubemos, Washington não tinha. Por tanto, Obama simplesmente mentiu quando disse sua declaração da Casa Branca, que "rapidamente soubemos que os ataques de 11 de setembro de 2001 foram realizados pela al-Qaida.

Desde então não revelaram mais nada sério. Falaram muito da "confissão" de Bin Laden, mas isso soa mais como se eu confessasse que venci a Maratona de Bosto. Bin Laden alardeou um feito que considerava uma grande vitória.

Também há muita discussão sobre a cólera de Washington contra o Paquistão, por este não ter entregado Bin Laden, embora seguramente elementos das forças militares e de segurança estavam informados de sua presença em Abbottabad. Fala-se menos da cólera do Paquistão por ter tido seu território invadido pelos Estados Unidos para realizarem um assassinato político.

O fervor antiestadunidense já é muito forte no Paquistão, e esse evento certamente o exarcebaria. A decisão de lançar o corpo ao mar já provoca, previsivelmente, cólera e ceticismo em grande parte do mundo muçulmano.

Poderiamos perguntar como reagiriamos se uns comandos iraquianos aterrizassem na mansão de George W. Bush, o assassinassem e lançassem seu corpo no Atlântico. Sem deixar dúvidas, seus crimes excederam em muito os que Bin Laden cometeu, e não é um "suspeito", mas sim, indiscutivelmente, o sujeito que "tomou as decisões", quem deu as ordens de cometer o "supremo crime internacional, que difere só de outros crimes de guerra porque contém em si o mal acumulado do conjunto" (citando o Tribunal de Nuremberg), pelo qual foram enforcados os criminosos nazistas: os centenas de milhares de mortos, milhões de refugiados, destruição de grande parte do país, o encarniçado conflito sectário que agora se propagou pelo resto da região.

Há também mais coisas a dizer sobre Bosch (Orlando Bosch, o terrorista que explodiu um avião cubano), que acaba de morrer pacificamente na Flórica, e sobre a "doutrina Bush", de que as sociedades que recebem e protegem terroristas são tão culpadas como os próprios terroristas, e que é preciso tratá-las da mesma maneira. Parece que ninguém se deu conta de que Bush estava, ao pronunciar aquilo, conclamando a invadirem, destruirem os Estados Unidos e assassinarem seu presidente criminoso.

O mesmo passa com o nome: Operação Gerônimo. A mentalidade imperial está tão arraigada, em toda a sociedade ocidental, que parece que ninguém percebe que estão glorificando Bin Laden, ao identificá-lo com a valorosa resistência frente aos invasores genocidas.

É como batizar nossas armas assassinas com os nomes das vítimas de nossos crimes: Apache, Tomahawk (nomes de tribos indígenas dos Estados Unidos). Seria algo parecido à Luftwaffe dar nomes a seus caças como "Judeu", ou "Cigano".

Há muito mais a dizer, mas os fatos mais óbvios e elementares, inclusive, deveriam nos dar mais o que pensar.

*Noam Chomsky é professor emérito do Departamento de Linguística e Filosofía del MIT. É autor de numerosas obras políticas. Seus últimos livros são uma nova edição de "Power and Terror", "The Essential Chomsky" (editado por Anthony Arnove), uma coletânea de seus trabalhos sobre política e linguagem, desde os anos 1950 até hoje, "Gaza in Crisis", com Ilan Pappé, e "Hopes and Prospects", também disponível em áudio.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

O SEGREDO DE RAUL - de Max Gehringer


imagem google
(mais uma contribuição - recebi por mail e aqui compartilho)

Durante minha vida profissional,
eu topei com algumas figuras
cujo sucesso surpreende muita gente.

Figuras sem um Vistoso currículo acadêmico,
sem um grande diferencial técnico,
sem muito networking ou marketing pessoal.

Figuras como o Raul.

Eu conheço o Raul desde os tempos da faculdade.
Na época, nós tínhamos um colega de classe,
o Pena, que era um gênio.

Na hora de fazer um trabalho em grupo,
todos nós queríamos cair no grupo do Pena,
porque o Pena fazia tudo sozinho.
Ele escolhia o tema, pesquisava os livros,
redigia muito bem e ainda desenhava
a capa do trabalho - com tinta nanquim.


Já o Raul nem dava palpite.
Ficava ali num canto,
dzendo que seu papel no grupo era um só,
apoiar o Pena.

Qualquer coisa que o Pena precisasse,
o Raul já estava providenciando,
antes que o Pena concluísse a frase.

Deu no que deu.
O Pena se formou em primeiro lugar na nossa turma.
E o resto de nós passou meio na carona do Pena
- que, além de nos dar uma colher de chá
nos trabalhos, ainda permitia
que a gente colasse dele nas provas.


imagem google
No dia da formatura, o diretor da escola chamou o Pena de
'paradigma do estudante que enobrece esta instituição de ensino'.

E o Raul ali, na terceira fila, só aplaudindo.

Dez anos depois, o Pena era a estrela da área
de planejamento de uma multinacional.
Brilhante como sempre, ele fazia admiráveis
projeções estratégicas de cinco e dez anos.

E quem era o chefe do Pena?

O Raul.

E como é que o Raul tinha conseguido chegar àquela posição?

Ninguém na empresa sabia explicar direito.

O Raul vivia repetindo que tinha subordinados
melhores do que ele, e ninguém ali parecia
discordar de tal afirmação.

Além disso, o Raul continuava a fazer
o que fazia na escola, ele apoiava.

Alguém tinha um problema?
Era só falar com o Raul que o Raul dava um jeito.

Meu último contato com o Raul foi há um ano.
Ele havia sido transferido para Miami,
onde fica a sede da empresa.

Quando conversou comigo,
o Raul disse que havia ficado surpreso com o convite.
Porque, ali na matriz,
o mais burrinho já tinha sido astronauta.

E eu perguntei ao Raul qual era a função dele.
Pergunta inócua, porque eu já sabia a resposta.
O Raul apoiava. Direcionava daqui, facilitava
dali, essas coisas que, na teoria, ninguém precisaria
mandar um brasileiro até Miami para fazer.

Foi quando, num evento em São Paulo ,
eu conheci o Vice-presidente de recursos
humanos da empresa do Raul.
E ele me contou que o Raul tinha uma habilidade
de valor inestimável:...

Ele entendia de gente.

Entendia tanto que não se preocupava
em ficar à sombra dos próprios subordinados
para fazer com que eles se sentissem melhor,
e fossem mais produtivos.

E, para me explicar o Raul,
o vice-presidente citou Samuel Butler,
que eu não sei ao certo quem foi,
mas que tem uma frase ótima:

'Qualquer tolo pode pintar um quadro,
mas só um gênio consegue vendê-lo'.

Essa era a habilidade
aparentemente simples que o Raul tinha,
de facilitar as relações entre as pessoas.

Perto do Raul, todo comprador normal
se sentia um expert,
e todo pintor comum, um gênio.
Essa era a principal competência dele.

'Há grandes Homens que fazem
com que todos se sintam pequenos.
Mas, o verdadeiro Grande Homem é aquele
que faz com que todos se sintam Grandes.'