sexta-feira, 20 de agosto de 2010

CRACK MATA – mesmo antes de levar a óbito.

Por: Sílvia Vargas
Publicado na Revista Feed Back - março 2010



Mata os sonhos, as esperanças, a alegria, o respeito, a índole e a dignidade.
Do usuário, da sua família. Mata a caridade e benevolência de quem assiste ao drama.
A dependência química, antes de se configurar crime, deve ser considerada doença e receber tratamento adequado.
Estimava-se em dezembro de 2009 (ZH, 17 dez 2009) que no RS o número de usuário já tivesse chegado há 50 mil. Certamente já passamos disso. A apreensão da droga no ano de 2009 foi de 51,5kg, ou seja 920% a mais que os 5,6Kg apreendidos em 2008 (ZH, 22 dez 2009).
O Crack é uma droga feita a partir das sobras do refino da cocaína misturada com bicarbonato de sódio geralmente fumada. É uma forma impura de cocaína e não um sub-produto. O nome deriva do verbo "to crack", que, em inglês, significa quebrar, devido aos pequenos estalidos produzidos pelos cristais (as pedras) ao serem queimados, como se quebrassem.
Chega ao sistema nervoso central em dez segundos provocando efeitos tais como euforia e hiperatividade (bem mais intensos do que no uso da cocaína, mas sem alivio da sensação de cansaço físico), depois que estes efeitos diminuem o usuário sente depressão, mal estar e freqüentemente náuseas. Devido ao fato de a área de absorção pulmonar ser grande e seu efeito durar de 3 a 10 minutos, para compensar o malestar, o sujeito sente o desejo de fumar mais crack para sentir-se bem de novo (dá-se a “fissura”), e assim o ciclo se reinicia, provocando intensa dependência.
 
Não raro, o usuário tem alucinações (visuais e auditivas) e paranóia (a popular “nóia”). Em relação ao seu preço, é uma droga mais barata que a cocaína se avaliado seu custo unitário (pedra), contudo a medida que a dependência avança e pelo tempo de efeito ser tão efêmero o usuário necessita de cada vez mais dinheiro para manutenção do uso compulsivo de várias pedras por dia.
A forma de uso do crack também favorece sua disseminação, já que basta um cachimbo, na maioria das vezes improvisado (como uma lata de alumínio furada, por exemplo) e desta forma o usuário inala, além do vapor da droga, o alumínio que se desprende com facilidade da lata aquecida e este metal se espalha pela corrente sanguínea provocando danos ao cérebro, aos pulmões, rins e ossos.
Ao mesmo tempo o uso da droga provoca lesões no cérebro, causando perda de função de neurônios. Isso resulta em deficiências de memória e de concentração (e por conseqüência em altos índices de abandono escolar), oscilações de humor, baixo limite para frustração e dificuldade em manter relacionamentos afetivos. O dependente dificilmente consegue manter uma rotina de trabalho ou de estudos e passa a viver basicamente em busca da droga, não medindo esforços para consegui-la.
O tratamento permite reverter parte desses danos cerebrais, entretanto muitas vezes o quadro é irreversível.
A droga causa potente dependência psíquica, além da física e frequentemente leva o usuário à prática de delitos para obter a droga. Pequenos furtos de dinheiro e jóias e de objetos, sobretudo eletroeletrônicos e eletrodomésticos, de início em casa, são a forma usual de sustentar o vício. Muitos dependentes acabam vendendo tudo o que têm a disposição, ficando somente com a roupa do corpo. Mulheres e também rapazes jovens, não tem o mínimo escrúpulo em se prostituir em troca de dinheiro ou da própria droga o que lhes expõe a maiores riscos.
Embora gere menos renda para o traficante por peso de cocaína produzida, o crack, sendo mais viciante, garante um mercado cativo de consumo, no que se assemelha ao álcool, que não só apresenta um baixo custo, mas acrescenta o fácil acesso .
Muitos jovens, meninos e cada vez mais meninas, segundo a psicólogas Carla Rojas Braga (ZH, 31 jan 2010), ficam bebados em quase todas as festas de finais de semana. Jovens que se embriagam pelo menos cem vezes (e não é difícil), contados os finais de semana de “festas” dos 14 aos 16 anos foram avaliados e apresentaram pior desempenho em testes de memória e um hipocampo menor dos que não ingerem álcool.
Além do crescimento no consumo os jovens começam a beber cada vez mais cedo. Atualmente no Brasil, por volta dos 12 anos. O que isso tem a ver com o crack?
Vamos em frente: de acordo com pesquisas de universidades americanas e brasileiras, o álcool pode causar danos ao hipocampo e que o completo desenvolvimento do cérebro, mais especificamente do lóbulo frontal, só ocorre ao final da adolescência (mais de 20 anos, segundo a OMS) e que os danos às células neuronais que estão sendo mortas ou lesadas a cada bebedeira vão trazer consequências graves.
Três milhões de adolescentes contraem doenças sexualmente transmissiveis a cada ano no mundo e os números de contaminção pelo vírus HIV não param de aumentar neste grupo. Outro dado é que metade dos adultos que começam a beber antes dos 14 anos tornam-se alcoolistas e o dado mais alarmente de todos e quem vem se tornando consenso entre os profissionais da saúde é que O ÁLCOOL É, sem dúvida, A PORTA DE ENTRADA PARA OUTRAS DROGAS. É fácil, ao estar alcoolizado, experimentar qualquer droga ofertada por algum “parceiro”. O pior disso é que quando se fala de crack, para chegar a dependência basta experimentar. A bebedeira dispensa inclusive a necessidade do convencimento, principalmente na adolescência quando a vida é movida pelos desafios. Dificilmente um usuário de crack se tornará um alcoolista, mas facilmente um alcoolista pode tornar-se também usuário de crack.
De acordo com o psiquiatra Sérgio de Paula Ramos, coordenador da Unidade de Dependência Química do Hospital Mãe de Deus e membro do conselho consultivo da Associação Brasileira de Estudos sobre o Álcool e outras Drogas (Abead) o drama do Crack que afeta o país exige uma política de prevenção.
Este trabalho de prevenção depende da mobilização coletiva, de políticas públicas eficientes, de investigações científicas, mas principalmente da atuação familiar.
Depende de todos. Cada família, cada pai, cada mãe precisa estar atento a seus filhos aos amigos e colegas de seus filhos. Observar e detectar alterações de humor e de hábitos como os de alimentação, sono, rendimento escolar, mudaça no grupo de amigos, entre outros, é fundamental. Não atribua qualquer mudança ou novidade na vida ou hábitos de seus filhos como algo comum à adolescência, comum ao jovem. Ivestigue.
Peque pelo excesso, jamais pela omissão. Todo filho precisa de limites. Os limites estabelecidos e impostos pelos pais dão a noção de segurança, atenção e cuidado para os filhos. Isso é amor. Um filho não quer estar ou sentir-se “solto”. Ele quer e vai lutar por espaço sim, por liberdade – isso é saudável. E quando bem orientados vão entender que cada passo é uma conquista – e vão ter orgulho de seus feitos. Ensine a seus filhos o valor do diálogo, da camaradagem e da confiança (principalmente da confiança – não duvidem de seus filhos – investiguem antes de culpar, condenar ou cobrar) para que eles percebam que há condições e possibilidades de conversar e contar qualquer coisa em casa, qualquer abordagem ou oferta que possam ter recebido, qualquer incidente com algum colega ou amigo ou com eles. Ensine que ser amigo não é acobertar um erro, mas conversar com alguém mais experiente para buscar auxilio, solução, compreensão e colo (quando preciso). E, pricipalmente, em situações de dúvida ou de dificuldade não imagine que é só esperar que vai passar, que tudo voltará ao seu lugar, porque quase na totalidade dos casos isso não irá acontecer. Procure um profissional da saúde. Fale com um médico ou um psicólogo de sua confiança. A ação rápida nestas situações é que fará a diferença.











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