Publicado no Jornal Minuano
Carderno de Saúde -10/02/09
O que uma vida sempre igual, organizada na rotina pode ter de boa? Acordar a cada manhã no mesmo horário e ver o dia se desenrolando como se fosse um filme seguindo um roteiro, cena após cena. Tudo acontecendo de acordo com o previsto. Um dia depois do outro, de uma maneira tranqüila e monótona e igual.
A rotina do despertar, da casa, dos filhos, do trabalho. A mesmice de conciliar tudo isso e ver o dia chegar ao seu final. Adormecer e começar tudo outra vez.
Parece chato? Cansativo?
Talvez.
Tudo depende da forma que olhamos as coisas, os fatos, a vida.
Pode também parecer ou ser muito agradável.
Ter a condição e a capacidade de organizar a vida, uma vida ou ainda as vidas de uma família é algo a ser admirado, pois é necessário habilidade para administrar o tempo e o espaço em que se atua.
Desempenhar múltiplos papéis e dar conta deles com competência é parte do dia-a-dia de muitas pessoas. Lidar com isso, nem sempre é tranqüilo ou simples, mas muitas vezes necessário. E sendo assim o possível a fazer é olhar para a situação, para vida, por um outro ângulo por que o valor e a importância que as coisas têm são proporcionais ao que atribuímos a elas e isso depende primordialmente de “onde”, ou “como” vemos as coisas.
Muitas vezes com o passar do tempo sentimos falta, saudades ou certa nostalgia do que ficou para trás. Inclusive daquilo que já foi desconfortável, coisas que por muito nos queixamos, reclamamos ou abominamos fazer. Outras que passavam completamente despercebidas. O que antes nem víamos ou dizíamos ruim hoje nos faz parar para pensar, reavaliar.
Saudades do trabalho com o filho pequeno (pela alegria e amor incondicional), do adolescente bagunceiro e mal humorado (na presença constante e segurança do lar), do chefe que cobrava muito (mas que valorizava o trabalho executado), de estudar, trabalhar fora, dar conta da casa (e ainda ter a maior disposição para um programa com os amigos) e quantas coisas mais...
Da chatice dos pais, da casa da infância... a lista poderia não ter fim, cada um na sua individualidade acrescentaria e cortaria alguns fragmentos relativos a sua vida.
Pense bem.
De quantas coisas reclamamos e depois que o tempo passa nos referimos à elas de maneira bem diferente.
Pode não ser simples, pode não ser fácil, mas é possível exercitar a nossa maneira de agir ou reagir às situações.
De uma maneira simples: Agimos ou Re-Agimos de acordo com a forma como percebemos os acontecimentos, fatos ou situações. Como percebemos está diretamente ligado à forma de como sentimos, que está relacionada à forma de como vemos – olhamos – para os acontecimentos, fatos ou situações e isso é único, pessoal e particular em cada sujeito.
A arte, a magia está em valorizar o presente, este momento, o lugar onde estou, aonde vivo, trabalho e buscar descobrir o que de melhor há para fazer, aonde ir, o que conhecer. Mais do que isso, observar a minha volta, às casas, praças, arquitetura. Olhar para àquilo que já me habituei a ver. Às pessoas, amigos, familiares, colegas. Tudo que hoje há aqui, onde se está. Olhar com “olhos de enxergar”! Pois pessoas vão e vem por um tempo ou para sempre. Lugares mudam, são alterados, reformados, abandonados. Nós partimos, chegamos. É a dinâmica da vida.
Eu, particularmente, hoje sinto certa nostalgia ao lembrar do Parcão, da Redenção e do Guaíba. Eles sempre estiveram lá enquanto eu lá estava, estavam no meu cotidiano. Passei incontáveis vezes por eles sem “vê-los”. Eu que os percebi e aproveitei pouco. Assim como muitas outras coisas do dia-a-dia.
Podem existir prazer e felicidade no cotidiano sim, na vida organizada, na rotina, desde que não aconteça como simples ato de repetição, executado dissociado do pensamento e do sentimento, apenas como um ato mecânico.
Tudo passa, tudo muda. Mais ou menos intensamente. Posso ser agente ou expectador das mudanças, é uma questão de escolha. E um cotidiano tranqüilo, com a vida organizada na rotina pode sim ser muito boa, se for esta à escolha.
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